quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Será que tenho depressão?

Algo muito falado atualmente, porém o correto diagnóstico e tratamento não é feito. Há uma série de mitos, preconceitos, verdades e mentiras sobre esse tema. Muito confundido com tristeza, estresse, problemas de relacionamento, trabalho ruim, casamento infeliz, e até doença contagiosa. "Doutor de tanto conviver com ele eu peguei uma depressão". Várias pessoas procuram o pronto socorro que trabalho dizendo que estão com depressão, e pedem ajuda para o tratamento.
Mas afinal de contas o que é depressão? É tristeza? Desânimo? Cansaço? Vontade de chorar?
É tudo isso, mas não é nada disso isolado.
Vamos ao conceito:
Os seguintes sintomas devem estar presentes em graus variados de intensidade: humor deprimido, perda de interesse e prazer nas atividades, energia diminuída levando a uma fadiga aumentada. Pode ocorrer também lentificação psicomotora, sentimentos de culpa, inutilidade, pessimismo intenso, insônia ou aumento da necessidade de sono, alteração do apetite tanto com aumento como para diminuição, alterações da percepção de sintomas dolorosos, deixando assim a sensação dolorosa mais intensa, sensação de opressão no peito, as vezes referido como dor. Alterações da memória, dificuldade de se concentrar, realização de atividades da vida diária pode estar prejudicada.
Depressão é uma doença, e como tal, para se ter o diagnóstico e o tratamento deve ser consultado um médico. Assim como outras doenças pode requerer diversos tipos de cuidados e isso quem poderá orientar melhor é o médico que fez o diagnóstico. O tratamento deve ser individualizado, ou seja, varia de acordo com a pessoa e com a doença, há casos em que o tratamento consiste somente em psicoterapia, pode necessitar de psicoterapia e medicamento, pode ser que seja necessário a participação de um hospital dia ou mesmo internação integral. A duração do tratamento também varia, mas nunca pode ser algo curto por menos de 6 meses, pois após ter sido cessado os sintomas, deverá ser realizado o tratamento de manutenção, previnindo assim recaídas.
Trata-se de uma síndrome que consiste em um conjunto de sinais e sintomas, que pode variar muito de pessoa para pessoa, existe inclusive depressão sem tristeza, na qual prevalece uma apatia. Muitas pessoas supervalorizam essa doença, o que é ruim, pois deve tentar ao máximo levar uma vida normal, claro que há certas atividades que serão mais difíceis de serem realizadas, mas deve ser feito um esforço. Há também o oposto, ou seja o diagnóstico ser menosprezado, pessoas que falam que isso é falta de trabalho, problemas somente espirituais, ou até falta de vergonha na cara, não é verdade. Ou seja cada pessoa deve ser avaliada e vai receber uma orientação específica, além do remédio. Por isso muitas vezes sou tido como chato, pois não faço consultas em corredor, em festas de casamento, batizado ou de aniversário. Vejam como podem ser variados os sintomas, isso faz com que uma série de medicamentos possam ser utilizados, que podem interagir com os medicamentos que a pessoa já toma, pode ser que seja um problema médico outro que esteja influenciando como um hipotiroidismo por exemplo. Pode ser que a pessoa precise iniciar uma rotina de atividades físicas, pode ser que precise relaxar mais, trabalhar mais, enfim. Pode ser que não seja depressão e sim tristeza, uma reação a um momento mais difícil da vida ou um processo de luto, e esses casos podem até ser que precisem de medicamentos sintomáticos para ajudar a passar essa fase, melhorar o sono, mas não é depressão. Cada caso é um caso e merece um cuidado adequado.
Tristeza é um sentimento normal do ser humano, que faz parte da vida e é inclusive necessário em alguns momentos. Ajuda a elaborar perdas, a repensar nossa vida, as vezes tirando a gente do piloto automático que muitas vezes nos colocamos.
A depressão está associada a pior recuperação de outras doenças médicas, controles de glicemia mais complicados em pacientes diabéticos, recuperação mais difícil de doenças cardíacas, quadros dolorosos mais intensos, e uma infinidade de situações que pioram a qualidade de vida do indivíduo e diminuem a expectativa de vida. Sim, depressão mata também. Não só por suicídio como muitos imaginam, mas por essas situações e até por negligência de cuidados com outras doenças.
Ou seja apesar do assunto ser amplamente divulgado, é um assunto muito complicado, com uma série de variáveis que precisam ser avaliadas, na maioria das vezes não apenas em uma consulta e sim em várias.
A boa notícia é que hoje dispomos de um arsenal terapêutico enorme e melhora muito a qualidade de vida da pessoa.
Tristeza não é depressão e depressão não é falta de um tanque de roupa para esfregar como diria minha avó.

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