terça-feira, 2 de agosto de 2011

Doença Bipolar: doença da moda ou da modernidade?

Já escrevi aqui um pouco sobre o transtorno afetivo bipolar, ou transtorno bipolar do humor, que são dois dos nomes mais usados para uma mesma patologia. Mas ainda há muito o que ser discutido e explicado sobre este assunto.
Estima-se que um paciente leve, em média, dez anos e quatro diferentes profissionais até que receba o diagnóstico correto desta patologia. Isto se deve a uma série de fatores:
Primeiro lugar as pessoas normalmente procuram ajuda quando estão deprimidas, e é muito comum que após melhorarem da depressão abandonem o tratamento e muitas vezes o médico não tem acesso aos outros momentos da doença porque o paciente não o procura.
Ora estamos falando de uma doença que na fase de hipomania a pessoa está com sentimento grande de bem estar, aceleração do pensamento, fazendo com que tome decisões mais rápidas, menor necessidade de sono. Ou seja muitas vezes a nossa sociedade “gosta” de pessoas que estão nessa fase, afinal ela está mais ágil, produzindo mais, dormindo menos, muitas vezes consumindo mais o que é inclusive pregado pela sociedade moderna. O problema é que nem tudo é positivo. Nesta fase ocorre também gastos maiores que o planejado, uma maior busca por atividades prazerosas o que muitas vezes faz com que as pessoas se coloquem em situações de risco, maior consumo de bebida alcóolica e de drogas, sexo desprotegido, etc. Mas de certa forma os prejuízos passam desapercebidos pela maioria das pessoas.
Outro motivo pelo qual muitas vezes ocorre a demora do diagnóstico é que certas características da doença são confundidas com a personalidade da pessoa, e sintomas são atribuídos como características da personalidade quando na verdade são sintomas de uma fase da doença.
Isso ocorre principalmente nos chamados estados mistos, ou seja nas fases em que a pessoa tem características da fase eufórica e características da fase depressiva ao mesmo tempo, isso grosseiramente falando. Há um aumento da energia, aceleração do pensamento e da fala, dificuldade em conciliar o sono associado a pensamentos depressivos, isso gera uma grande irritabilidade no paciente, aumento de impulsividade, oscilações frequentes ao longo do dia, maior reatividade a fatores externos tanto positivos como negativos. Essas pessoas normalmente são classificadas como explosivas, de pavio curto, impulsivas, mas isso pode ser um sintoma da doença bipolar.
Pode também ser característica da personalidade do indivíduo, mas como saber? Isso que muitas é bastante difícil e por isso que alguns pacientes tem dificuldades em receber o diagnóstico correto, ou leva um tempo até que seja feito este diagnóstico. Mas basicamente deve ser avaliado como era a personalidade da pessoa anteriormente, junto com uma boa anamnese do paciente com dados de história que ajudem a confirmar os traços de personalidade ou a doença bipolar, muitas vezes em uma única consulta não é possível fechar esse diagnóstico, precisamos de detalhes maiores da vida da pessoa, saber se algumas situações desencadearam esse quadro ou não, se está reagindo de forma diferente do que anteriormente reagia.
Ou seja precisamos conhecer a pessoa, ter dados sobre a família, o emprego e os relacionamentos para que possa ser feito o diagnóstico correto.
Dizem que este diagnóstico agora está na moda e que tudo é decorrente a doença bipolar, não penso assim. Acho que estamos falando mais sobre essa patologia que sempre existiu, existe hoje menos preconceito em se abrir um diagnóstico como esse, muitas vezes existe sim alguns pacientes que recebem este diagnóstico e de fato não está correto, mas acredito que o aumento da incidência desta patologia se deva a um melhor diagnóstico, facilidade de obtenção de drogas e de medicamentos antidepressivos, a sociedade que acaba fazendo que as pessoas tenham muito mais estímulos do que antigamente, durmam menos, consumam mais, tenham a suas rotinas desregradas. Ou seja vivemos sim em uma sociedade bipolarizante, Resta a nós sabermos nos cuidar, ter tempo para trabalhar, para consumir, mas também para descansar, dormir, ler, ter lazer, etc