terça-feira, 6 de setembro de 2011

Mundo Miojo

Hoje estava em trânsito e ouvi na rádio que o orgão que regulamenta os alimentos estava intervindo em relação ao macarrão instantâneo pois ele contêm em uma única refeição cerca de 60% do sódio recomendado de ingestão diária, isso no caso dos adultos ao falarmos das crianças uma única refeição já ultrapassa o valor diário recomendado. A nutricionista que estava dando a entrevista, falando muito bem por sinal, estava alertando sobre esse problema e os riscos que a alta ingestão de sódio pode causar ao organismo.
Lembro sempre da minha mãe falar que miojo, nem chama mais assim, era só para ocasiões em que fosse necessário, e passava horas fazendo a comida minha e dos meus irmãos, sempre muito bem temperada, saudável e gostosa, mas eu queria miojo e ela me explicava que essas coisas rápidas não podem ser usadas todo dia pois fazem mal, tem muito sal e anilina, referindo-se ao corante que provavelmente não tinha esse nome, mas está presente nesses alimentos.
Hoje percebo como minha mãe com isso me ensinou algo muito importante quando ela falava, tudo que é rápido, bonito e gostoso deve fazer mal se em exagero, como ela gostava de dizer.
Quem me conhece de perto sabe que gosto muito de tecnologia, adoro a velocidade das informações e como tudo se conecta com tudo, mas isso tem trazido um efeito miojo na gente. As pessoas atualmente querem tudo rápido, se comunicam rápido, se conhecem rápido, viram melhores amigos rápido de mais ou para ser mais rápido BFF, como é digitado nas redes sociais.
Isso em exagero não pode fazer bem, Dona Esther está certa. Lembro que para falar com o meu pai, precisava esperar ele chegar em casa, se fosse muito urgente minha mãe ligava no trabalho e deixava eu falar. Hoje vejo as crianças não esperam mais nada, muitas vezes estou em atendimento e o celular deste pobres pais tocam diversas vezes com os seus filhos desesperados para falar com eles por um assunto "urgente" que não pode esperar. Lembro que também tinha assuntos urgentes para falar com o meu pai, uma hora parecia uma eternidade, mas eu usava essa "eternidade" para refletir, muitas vezes percebia que não era tão urgente assim, percebia que eu podia resolver sozinho, aprendia a fazer outras coisas, consultas outras pessoas, etc...
Isso fez com que eu aprendesse a lidar melhor com o fato de ter que aguardar, a lidar com algumas frustrações, e acima de tudo perceber que a eternidade não era uma eternidade, que as coisas que eu tinha certeza, eu estava errado, que eu sabia fazer muito mais coisas do que imaginava e que sabia me virar sozinho.
Percebo que temos menos paciência para construir as coisas, inclusive relacionamentos com pessoas, esperar pode ser um tormento. Mas e se fizéssemos menos coisas, mas coisas que temos certezas de que é certo, não produziríamos mais?
Parar e refletir sobre o que foi aprendido no final de um dia, pensar em alternativas, tentar mudar o ponto de vista, são coisas que éramos obrigados a fazer e hoje pegamos o caminho mais rápido, criando assim uma geração sedenta por miojo. Em três minutos eu conquistei, beijei e dispensei aquela pessoa.
Três minutos eu posso falar com meu amigo do outro lado do mundo, posso ter informações que vão mudar a minha vida. Acho importante sim a praticidade, a rapidez e a produtividade. Gosto de miojo também, mas não pode ser todo dia, não pode ser para tudo.
Estou falando de mim, mas na verdade estou falando de uma geração inteira, estou falando de nós atualmente e de como poderemos dar parâmetros aos nossos filhos. Precisamos ensinar que as coisas que são construídas lentamente são mais fortes, que quando sofremos estamos nos fortalecendo, que lidar com as frustrações faz com que estejamos melhor preparados para a vida adulta, afinal não podemos comer miojo todo dia.

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