segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O envelhecimento e os cuidados com quem cuida.

Não sou especialista em psiquiatria geriátrica, mas cada vez mais me deparo com as pessoas que convivem com os idosos. Sabemos que existem algumas peculiaridades do indivíduo nessa fase da vida, e muitas vezes quem convive diretamente vivencia uma série de conflitos.
Por isso e atendendo a um pedido de uma pessoa, resolvi escrever sobre esse tema com a intenção de ajudar um pouco, através do conhecimento, as pessoas que convivem com o idoso.
O que é o envelhecimento?
O envelhecimento é um processo de diminuição progressiva de habilidades motoras, sensitivas e cognitivas, o que leva a um apego maior aos próprios valores, dificuldade de aceitar o novo, supervalorização da própria história de vida e conflitos com a realidade atual. Diminuição da capacidade em se adaptar à realidade e a frustrações, tendo como conseqüência queixas freqüentes.
 Claro que estou falando isso de um modo geral, não necessariamente ocorre com todas as pessoas.
Essas particularidades muitas vezes despertam em pessoas que convivem com eles uma série de sentimentos entre eles a culpa. Esse sentimento ocorre devido a uma ambivalência, pois amamos muito aquela pessoa que nos ajudou muito durante toda nossa vida, sabemos que ela merece todo respeito e amor do mundo, mas ás vezes decorrente da sobrecarga emocional ficamos nervosos, ansiosos e até com raiva o que rapidamente revertido em uma enorme sensação de ser a pior pessoa do universo, um verdadeiro monstro! Como lidar com esses sentimentos? O que fazer para atenuar o sofrimento gerado por esses sentimentos antagônicos?
Em primeiro lugar entender e aceitar que pessoas idosas precisam de maiores cuidados, que existem certas características que são normais de pessoas com mais idade e que devemos achar formas de lidar com isso. É fundamental que a saúde do cuidador seja observada. Não há como tratar bem os outros se não estamos bem. Acredito que  é fundamental ter uma certa rotina de atividades que não seja exclusivamente voltadas para os cuidados. É importante que o cuidador também tenha sua atividade física, de lazer e sociabilização. Muitas vezes as pessoas restringem ao máximo suas vidas para que tenham mais tempo e possam cuidar, mas isso reflete em uma sensação de que parou a vida o que gera angustia e tristeza. Por isso para cuidar bem temos que cuidar em primeiro lugar de nós mesmos. Assim o tempo dedicado a eles é um tempo com mais qualidade.
Quanto mais o cuidador estiver bem e transmitir isso ao idoso, melhor o idoso ficará tornando mais fácil a tarefa.
Ocorre uma certa primitivação da personalidade, ou seja, é comum ter um certo comportamento de mimo. Isso muitas vezes leva a sentimentos ambivalentes de raiva e dó, o que faz com que ocorra instabilidades no relacionamento. A melhor forma é entender que isso faz parte da insegurança do idoso e para isso é importante reforçar suas habilidades e informá-lo de tudo o que está sendo feito e pedir auxílio e colaboração no tratamento. Estabelecer limites de forma carinhosa para evitar o excesso de dependência, alumas Frases do tipo: "eu tenho certeza que você pode, eu não vou fazer por você pois sei que você consegue e fazer isso vai fazer bem para você" normalmente ajudam. 
Um comportamento de inveja e ciúme pode ocorrer, não aceitando que as pessoas se divirtam, se relacionem ou até mesmo trabalhem, supervalorizando suas deficiências e solicitando freqüentemente o cuidador, está aí mais um exemplo da insegurança e por isso o ideal é manter algumas atividades para o idoso para que ele tenha um círculo de convívio e entenda de que não está sozinho.
Oscilações bruscas de humor podem ocorrer, com aumento de irritabilidade e tristeza, isso pode ser normal pelo fato de estar tendo dificuldade de lidar com as perdas impostas pela idade, ou pode ser patológico decorrente de um quadro depressivo que é comum ocorrer. Observe e sempre que tiver dúvida consulte um médico. O ideal é que tenha um geriatra de referência que pode ajudar não só com a saúde do idoso, mas também com essas questões e como lidar com esses desafios que vão surgindo. Ele pode encaminhar a outros especialistas conforme vai surgindo a necessidade, orientar como agir, orientar sobre a necessidade de contratar uma pessoa para ajudar com os cuidados, etc.
O cuidador deve reconhecer e respeitar os seus limites, a maioria das vezes observo que as pessoas por amarem tanto aquele idoso abdicam de toda sua vida para ficar com ele, mas isso reforça esse sentimento de incapacidade que é comum no idoso e faz com que fique cada vez mais dependente e solicitando os cuidados cada vez mais, virando uma bola de neve. Respeite seus limites, peça ajuda se necessário.
Use senso de humor, com respeito é lógico, isso deixa o clima menos tenso, deixa mais fácil os cuidados. Estimule o idoso sempre e varie os estímulos com filmes, músicas, passeios, peças enfim o que tiver disponível. Sempre procure passar bem estar e satisfação com a vida, não reclame perto deles pois já ocorre uma sensação de estar incomodando e se ficamos reclamando isso só tende a deixar o ambiente mais negativo e as coisas mais difíceis. Procure estar bem assim não irá descontar o seu estresse no idoso.
Tenho perfeita noção que tudo que estou falando parece simples, mas não é. Mas podemos sim modificar pequenos hábitos que da mesma forma que ocorre com os aspectos negativos, ocorrem também com os positivos, criando assim um ciclo virtuoso e não o vicioso que normalmente entramos. Saber que há pessoas que podem ajudar e saber pedir ajuda é importante. Não somos máquinas e erramos muito todos os dias, mas assumir nossos erros e nossas limitações é muito importante para que não entremos nesta bola de neve.
Mantenha um tempo para si, cuide-se de verdade. Mantenha-se saudável física e emocionalmente. Só assim podemos dar os cuidados a quem tanto nos ajudou.
Afinal a única maneira que inventaram de se viver muito tempo é envelhecendo!

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