sexta-feira, 1 de julho de 2011

Aspectos Neuropsiquiátricos das doenças Dermatológicas


A pele é o maior e mais extenso órgão do corpo humano e tem um importante papel na psiquiatria. A pele é uma interface, influenciada por fatores externos, desempenhando um papel fundamental no processo de socialização desde a infância e se mantendo durante a vida adulta. 
Há uma estreita relação entre patologias psiquiátricas e dermatológicas, sendo relatado que 10-50% dos pacientes com prurido sem erupção cutânea, por exemplo, apresentam uma comorbidade com outra patologia que não dermatológica e em 70% destes a comorbidade é psiquiátrica.
 Essa estreita relação é explicada, em parte, porque a pele e o sistema nervoso têm a sua origem no mesmo folheto embrionário. Ambos derivam do ectoderma, o folheto externo do embrião, que na sua evolução, dobra-se sobre si mesmo formando o tubo neural. A parte que fica por fora vai formar a pele e a parte interna vai desenvolver o sistema nervoso.
Este órgão é uma barreira entre o organismo e o ambiente externo desempenhando a função de proteção contra radiações, lesões mecânicas, materiais tóxicos e organismos estranhos. Fundamental para a regulação da temperatura corporal, controle do metabolismo de água e sal pela transpiração, síntese de vários compostos importantes, como a vitamina D, mediação de sensações, com todas as funções de sede do tato. Também é um suporte para manifestações simbólicas (escarificações, pintura ritual em algumas tribos), culturais (tatuagem, piercing), expressão de sentimentos e troca de signos que compõem o campo de funcionamento psíquico mediado pela linguagem.
Muitas alterações em sua fisiologia adquirem significações no campo das relações humanas, comportando a expressão de emoções: enrubescimento (vasodilatação), empalidecimento (vasoconstricção), pele arrepiada (pilo-ereção), prurido (irritações em terminações nervosas), hiperidrose (sudorese excessiva) e outras. Desse modo, pode-se dizer que a pele situa-se na fronteira entre interior e exterior do organismo, atuando como via de mão-dupla que comunica ambos os territórios e pode receber sinais de ambas.
A comorbidade com doenças psiquiátricas podem estar presentes em até 40% dos casos de acordo com estudos recentes realizados em grandes centros de dermatologia.
Esse grande número de pacientes acometidos por patologias psiquiátricas e dermatológicas pode ser explicado por algumas razões, tais como: O estigma da doença dermatológica levando ou facilitando o acometimento por quadros depressivos e ansiosos ou desenvolvimento de outros sintomas decorrentes do isolamento social. Outro motivo desta relação é a origem embrionária dos órgão acometidos, como foi dito acima é a mesma origem e por isso pode ter acometimento de algumas síndromes que tanto afetam a pele como o psiquismo do paciente.
O manejo efetivo de doenças dermatológicas requer a consideração dos fatores psicossociais envolvidos. Mais do que um problema cosmético, as doenças dermatológicas envolvem fatores psicossociais que afetam o paciente, a família e a sociedade.
Nesse contexto, um amplo entendimento sobre essas questões e a integração entre a equipe da atenção primária com os especialistas podem trazer benefícios à assistência ao paciente portador de lesões cutâneas

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